coração do vale I morangos
Ouro vermelho
brota no campo
Com pouco mais de um ano de fundação da
Central de Negócios, produtores de morango
colhem o sucesso da organização do trabalho
A porta de entrada desta empresa é uma porteira, os funcionários não usam
crachá porque todos se conhecem pelo nome e o patrão anda sorridente com um
chapéu na cabeça e uma bacia na mão cheia do ouro vermelho de Bom Repouso:
o morango. Há mais de um ano, os pequenos produtores que viraram empresários
nessa pequena cidade do Sul de Minas decidiram fazer parte da Central de Negócios
do SEBRAE-MG e, desde então, experimentam o doce sabor de ter 100% de aumento
nos lucros. A roça virou empresa e o que antes era um punhado de produtores
que trabalhavam por conta própria se tornou uma associação sólida e com um novo
nome: Coração do Vale.
Para os produtores, o desafio da implantação da Central valeu a pena e eles não
se intimidaram com as novidades, principalmente porque tiveram que aprender a se
perceberem como empresários, assumindo a responsabilidade dessa nova posição.
“Hoje a gente sabe muita coisa que antes não sabia. O produto que a gente usa não
é mais de qualquer jeito. Aprendemos a forma de tratar o solo para não estragar e
até o jeito de embalar o morango na caixa para ficar melhor e mais bonito”, conta
João Batista dos Santos, um dos novos empresários da Coração do Vale. Ele planta
morangos há nove anos e diz que ficou bastante animado desde que notou os primeiros
resultados da nova forma de gerenciar o próprio negócio.
Desde março de 2008, quando o programa começou a ser implantado na cidade,
foram mais de 119 horas de treinamento e quase 300 de consultoria direta com
o SEBRAE-MG. Reuniões a cada 15 dias serviam para se discutir as linhas do projeto
e também para se conhecer as dificuldades e os avanços dos produtores com
o programa. A necessidade de integração de cooperação entre os produtores com
treinamentos sobre como realizar as compras integradas virou o principal assunto
dos encontros quinzenais.
“Nossos companheiros estão
contentes, conseguiram melhorias
e é isso que a gente quer:
melhoria para as famílias”
A organização trouxe conquistas. Uma das principais foi a elevação do preço do
produto no mercado. João Batista lembra que o morango antes era vendido fora dos
padrões e por um preço que eles próprios desconheciam. “A pessoa levava pelo preço
que queria e se a gente não aceitasse a pechincha o freguês falava que comprava
do outro produto.” Muitos produtores realmente desconheciam o custo da própria
produção e, com isso, não podiam avaliar a margem de lucro e até misturavam o
dinheiro do faturamento da produção com o que já haviam investido. Através da
Central eles construíram um centro de distribuição, onde os morangos são vendidos.
Assim, há uma padronização da venda, evitando a desvalorização do produto.
“Hoje as pessoas já vêm direto comprar com a gente porque a qualidade do nosso
morango está melhor”, afirma João Batista.
O presidente da Central de Negócios de Bom Repouso, Jesus Batista, também sofreu
com esse problema e agora, conta, tem pleno controle de quanto vale a mercadoria que
oferece ao freguês. “ Antigamente eu não tinha como brigar pelo preço sozinho. Era o
preço que o comprador queria. A gente não anotava nada. Só plantava, colhia e vendia.
A gente não sabia o valor do mercado. Agora temos internet. Temos informação.”
Com a venda conjunta e bem planejada os lucros não demoraram a aparecer. Só
com a compra de insumos, por exemplo, os produtores conseguiram uma economia de
27%. Com isso, o preço da caixa de morangos subiu de R$ 2,30 para R$ 3,67 em pouco
tempo. A produção também aumentou: enquanto em 2007 eles fecharam o ano com a
venda aproximada de 95.800 caixas, em 2008 esse número saltou para a impressionante
marca de 205.164. “Se não fosse a Central de Negócios eu podia ter desistido de plantar
morango. Estou com fé que ainda vai melhorar”, afirma João Batista, que hoje conta com
um centro de distribuição, que padroniza o processo de venda dos morangos e evita a
desvalorização do produto. “Hoje as pessoas já vêm direto comprar com a gente porque
a qualidade do nosso morango está melhor”, comemora o produtor.
O produtor Anilton Rodrigues Silva, que planta morango há 12 anos, levou para
dentro de casa a recompensa pelo trabalho organizado junto com os colegas de lavoura.
“Já aconteceu de eu vender o morango e não receber. Agora tenho o dinheiro
todo fim de semana. Dá para pagar as contas e até pude comprar uma mesa grande
que minha esposa sempre quis.” Com a casa arrumada e a família satisfeita, Anilton
vai realizar um sonho jamais imaginado. Em outubro, o homem simples da roça, que
nunca entrou num avião, viaja para Portugal onde irá conhecer uma outra Central de
Negócios. “Vou para Portugal. Uma pessoa da roça viajar para o exterior dá orgulho.
Uma satisfação que nem sei explicar.”
Anilton também conta de uma mania que está movimentando as mulheres de
sua casa e de outros produtores. Sua esposa, mãe e irmã passaram a se dedicar à
fabricação do licor e da geléia de morango. Agora em Bom Repouso é assim, enquanto
os homens dão conta da plantação e da organização da Central, as mulheres
adoçam ainda mais os lucros com os produtos provenientes do morango. Outra
conquista dos produtores foi a compra de um baú refrigerado que está sendo montado
no centro de distribuição para que os morangos possam durar mais tempo e
com mais qualidade. Anilton explica que, depois de colhido, o morango dura cerca
de três dias sem refrigeração. Com a câmara fria, a fruta ganha mais dois dias de resistência.
Também compararam uma caminhonete e construíram uma nova estrada
para ajudar no transporte do produto até o centro de distribuição.
A tecnologia por meio de um computador próprio da Coração do Vale também
ajudou muito na organização de dados referentes ao planejamento da produção e
das vendas. O acesso à internet contribuiu principalmente na hora de pesquisar os
preços do morango no mercado e de buscar informações sobre outros produtos,
como os insumos utilizados na plantação. Outra vantagem da unificação dos produtores
na Central de Negócios foi a facilidade de acesso ao crédito.
Com a produção organizada, preços definidos e vendas a todo vapor, os produtores
de morango ainda passaram pela experiência do desenvolvimento de um planejamento
de marketing, por meio da consultoria do SEBRAE-MG, a partir do Programa Sebrae
de Design. Para o produtor João Batista, a explicação para o investimento em uma marca
está na ponta da língua: “Se a gente não tiver marca, a gente não tem identidade.”
“Nossos companheiros estão
contentes, conseguiram melhorias
e é isso que a gente quer:
melhoria para as famílias”
João Batista dos Santos
empresário Coração do Vale
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